Última atualização em 28 de outubro de 2025 por Dr. Marco Nunes, urologista
A incontinência urinária após cirurgia de próstata é uma das principais preocupações dos homens que precisam se submeter a esse procedimento. É completamente compreensível sentir ansiedade sobre essa possibilidade, afinal, o controle urinário é algo que consideramos natural e sua perda pode impactar significativamente nossa qualidade de vida.
Embora seja uma complicação possível, existem estratégias eficazes para prevenir, tratar e superar essa condição. Com o acompanhamento médico adequado e as técnicas modernas disponíveis, a maioria dos pacientes consegue recuperar o controle urinário e manter sua qualidade de vida.
Essa condição é frequente no período pós-operatório imediato da cirurgia robótica da próstata, mas tende a melhorar progressivamente ao longo dos meses seguintes. Cada caso possui seu próprio ritmo de recuperação, e é fundamental ter paciência e seguir corretamente as orientações médicas durante todo o processo de reabilitação.
Muitos pacientes ficam surpresos ao descobrir que a recuperação pode ser mais rápida do que imaginavam inicialmente.

O que é a incontinência pós-prostatectomia e por que ela acontece?
Quando falamos sobre incontinência pós-prostatectomia, estamos nos referindo à perda involuntária de urina que pode ocorrer após a remoção cirúrgica da próstata. Para entender por que isso acontece, imagine a próstata como uma pequena glândula que fica bem próxima à bexiga e envolve a uretra (o canal por onde a urina sai).
Durante a cirurgia, mesmo com toda a precisão moderna, os músculos e nervos que controlam a micção podem ser temporária ou permanentemente afetados.
A incontinência não é igual para todos os pacientes. Na verdade, ela se manifesta de formas diferentes, e cada tipo tem suas características específicas que direcionam o tratamento mais adequado. Compreender essas diferenças é fundamental para escolher a melhor estratégia de recuperação, são elas:
- Incontinência urinária de esforço (SUI) é o tipo mais comum após a cirurgia de próstata. Imagine que você está rindo de uma piada engraçada, espirra por causa de uma alergia ou levanta uma caixa pesada – e de repente há uma perda de urina. Isso acontece porque o esfíncter urinário, que é como uma válvula que controla a saída da urina, pode ficar enfraquecido ou danificado durante o procedimento. É como se essa válvula não conseguisse mais fechar completamente quando há pressão extra no abdômen.
- Incontinência urinária de urgência (UUI) é uma situação bem diferente. Aqui, você sente uma vontade súbita e intensa de urinar, como se não pudesse esperar nem mais um minuto. Muitas vezes, essa urgência é seguida por perda involuntária de urina antes mesmo de chegar ao banheiro. Também conhecida como bexiga hiperativa, pode resultar de alterações nos nervos que controlam a bexiga ou de mudanças na função vesical após a cirurgia. É como se a bexiga tivesse desenvolvido uma “personalidade própria” e decidisse quando quer esvaziar.
- Incontinência urinária mista acontece quando você experimenta uma combinação dos dois tipos anteriores. Alguns pacientes podem ter perdas aos esforços e também episódios de urgência com escape urinário. É como enfrentar dois desafios ao mesmo tempo, mas felizmente existem tratamentos que abordam ambos os aspectos.
Como funciona a recuperação da continência?
A recuperação segue um padrão temporal bastante previsível, embora cada paciente tenha seu ritmo individual.
Aproximadamente 69% dos pacientes recuperam a continência aos 3 meses, 88% aos 6 meses e 94% aos 12 meses após o procedimento. Esses números são ainda mais otimistas quando comparados à cirurgia laparoscópica tradicional, demonstrando as vantagens da técnica robótica.
É importante entender que “recuperação da continência” não significa necessariamente estar 100% como antes da cirurgia desde o primeiro dia. É um processo gradual, como a recuperação de uma lesão muscular – você vai notando melhorias progressivas até chegar ao resultado final.
Marcos temporais e o que esperar em cada fase:
Primeiros 3 meses – a fase inicial da jornada: Durante esse período, é completamente normal experimentar algum grau de incontinência, especialmente de esforço. Pense nessa fase como o período de “reconstrução” – seu corpo está se adaptando às mudanças anatômicas, os tecidos estão cicatrizando, e tudo está se reorganizando internamente. Muitos pacientes notam melhora gradual semana após semana, mas ainda podem precisar usar absorventes ou fraldas.
Não se desanime se os primeiros dias ou semanas forem desafiadores. É fundamental manter a disciplina com os exercícios do assoalho pélvico e seguir todas as orientações médicas.
- 3 a 6 meses – a fase de consolidação: Este é um período muito encorajador para a maioria dos pacientes. Os músculos do assoalho pélvico ganham força progressivamente, e muitos conseguem reduzir significativamente ou até eliminar o uso de proteções. É como se o corpo finalmente “lembrasse” como controlar a urina adequadamente. Ainda podem ocorrer episódios ocasionais de perda urinária, especialmente durante esforços mais intensos, mas a tendência é de melhora constante.
- 6 a 12 meses – a fase de estabilização: A grande maioria dos pacientes atinge a continência completa ou quase completa nessa fase. Os que ainda apresentam sintomas geralmente têm perdas mínimas que não interferem significativamente na qualidade de vida. É neste momento que se pode avaliar com mais precisão se será necessário considerar tratamentos adicionais.
A paciência durante esse período é recompensada na maioria dos casos. É importante manter a regularidade dos exercícios do assoalho pélvico, comparecer às consultas de acompanhamento e comunicar qualquer mudança nos sintomas ao médico. Muitas vezes, pequenos ajustes no tratamento podem acelerar significativamente a recuperação.
Quando os marcos não se cumprem e é hora de reavaliar
Embora a maioria dos pacientes siga essa trajetória de recuperação, alguns podem apresentar evolução mais lenta ou estagnação dos sintomas. Não há motivo para pânico, mas é importante saber quando buscar uma reavaliação mais detalhada.
É recomendável reavaliar a situação quando não há melhora significativa após 6 meses de tratamento conservador adequado, quando a incontinência permanece grave (uso de mais de 3 absorventes por dia) após 12 meses, ou quando surgem novos sintomas como dor, sangramento ou infecções urinárias recorrentes. Também é importante procurar ajuda se a qualidade de vida permanece severamente comprometida apesar do tratamento.
Nesses casos, pode ser necessário investigar outras causas, ajustar o tratamento ou considerar opções cirúrgicas específicas para a correção da incontinência.
O que funciona no tratamento conservador?
As estratégias de exercícios do assoalho pélvico após prostatectomia e a fisioterapia pélvica com biofeedback constituem o núcleo do tratamento não cirúrgico. Todos os homens com incontinência após prostatectomia devem receber orientação sobre exercícios do assoalho pélvico. O treinamento da musculatura pélvica melhora significativamente a incontinência pós-prostatectomia, enquanto o biofeedback pode adicionar benefícios em casos selecionados.
O mais interessante é que esses tratamentos não têm efeitos colaterais e podem ser iniciados precocemente após a cirurgia.
Treinamento estruturado da musculatura pélvica
O treinamento da musculatura pélvica estruturado é muito mais do que simplesmente “apertar os músculos”. É um programa organizado que deve ser iniciado o mais precocemente possível após a cirurgia, idealmente ainda no hospital.
Primeiro, você precisa aprender a identificar corretamente os músculos. A melhor forma de fazer isso é imaginar que está tentando interromper o jato urinário ou segurar gases intestinais. Quando você contrai esses músculos, deve sentir uma sensação de “elevação” na região pélvica, como se estivesse puxando os músculos para dentro e para cima. É importante evitar contrair abdômen, glúteos ou coxas simultaneamente – o foco deve estar apenas nos músculos pélvicos.
A respiração deve permanecer normal durante os exercícios – muitas pessoas prendem a respiração sem perceber, o que pode diminuir a eficácia. Realize os exercícios em diferentes posições ao longo do dia: pela manhã na cama, durante o almoço sentado, e à noite em pé.
A consistência é fundamental para o sucesso. Pacientes que mantêm a regularidade dos exercícios por pelo menos 3 meses apresentam melhores resultados. É recomendável criar uma rotina diária e usar lembretes no celular para não esquecer das sessões.
Biofeedback: quando usar e para quem faz sentido
O biofeedback é como ter um “personal trainer” para seus músculos pélvicos. Esta técnica utiliza equipamentos especiais para mostrar em tempo real como seus músculos estão funcionando, permitindo que você veja na tela do computador se está contraindo corretamente.
Esta abordagem é particularmente útil para pacientes que têm dificuldade em identificar ou contrair corretamente os músculos pélvicos. Muitas pessoas acham que estão fazendo os exercícios corretamente, mas na verdade estão contraindo músculos errados ou com intensidade inadequada. O biofeedback elimina essa dúvida.
Também é muito eficaz para casos onde há contração excessiva de músculos auxiliares. Alguns pacientes, na tentativa de fortalecer os músculos pélvicos, acabam contraindo abdômen, glúteos e coxas com muita força, o que pode ser contraproducente. O biofeedback ensina a isolar corretamente os músculos que realmente importam.
O biofeedback geralmente é realizado por fisioterapeutas especializados em saúde pélvica e pode acelerar significativamente o aprendizado da técnica correta. As sessões costumam durar entre 30 a 45 minutos e são realizadas semanalmente ou quinzenalmente, dependendo da necessidade de cada paciente.

E se os sintomas forem de urgência ou urgência-incontinência?
Embora a incontinência de esforço seja a “estrela principal” após a prostatectomia, uma parcela significativa dos pacientes desenvolve sintomas de urgência urinária que podem ser igualmente desafiadores.
A urgência urinária após prostatectomia é como ter uma bexiga que desenvolveu “pressa” – ela decide quando quer esvaziar, muitas vezes sem avisar com antecedência suficiente. Essa condição requer uma abordagem diferenciada que combina estratégias comportamentais, modificações do estilo de vida e, quando necessário, medicamentos específicos.
Tratamento comportamental e redução de irritantes vesicais
O primeiro passo no tratamento da urgência urinária é como “reeducar” sua bexiga para ter mais paciência. Isso pode parecer estranho, mas funciona muito bem.
O treinamento vesical é uma técnica simples. Comece estabelecendo horários regulares para urinar, inicialmente a cada 2-3 horas, mesmo que não sinta vontade. Gradualmente, você pode aumentar os intervalos entre as micções. Quando surgir urgência prematura, use técnicas de distração – conte de 100 para trás, faça exercícios de respiração profunda, ou concentre-se em outra atividade. Muitos pacientes ficam surpresos ao descobrir que a urgência muitas vezes diminui se eles conseguem “distraí-la” por alguns minutos.
As modificações dietéticas podem fazer uma diferença surpreendente. A cafeína é um dos principais vilões – café, chá, refrigerantes e até chocolate podem irritar a bexiga e piorar a urgência. Bebidas alcoólicas também podem ser problemáticas. Alimentos muito ácidos (como frutas cítricas) ou picantes podem irritar a bexiga em algumas pessoas. Isso não significa que você precisa eliminar tudo isso para sempre, mas reduzir ou evitar temporariamente pode ajudar a identificar quais são seus “gatilhos” pessoais.
A hidratação adequada é um equilíbrio delicado. Você precisa beber líquido suficiente (1,5-2 litros por dia), mas distribua a ingestão ao longo do dia ao invés de beber grandes quantidades de uma vez. Reduza o consumo de líquidos 2-3 horas antes de dormir para melhorar o sono noturno.
Outros ajustes no estilo de vida incluem manter peso corporal adequado (o excesso de peso pode pressionar a bexiga), evitar constipação intestinal (que pode pressionar a bexiga por trás), e esvaziar completamente a bexiga a cada micção – não tenha pressa no banheiro.
Quando a cirurgia entra em cena?
Chegar ao ponto de considerar cirurgia pode gerar ansiedade, mas é importante entender que, quando bem indicada, representa uma excelente oportunidade de recuperar definitivamente o controle urinário. A decisão sobre sling masculino ou esfíncter artificial pós-prostatectomia deve ser baseada em critérios objetivos bem definidos, considerando a gravidade dos sintomas, o tempo de evolução e a resposta ao tratamento conservador adequado.
Existem indicações específicas para cada tipo de procedimento cirúrgico. Os dois possuem eficácia semelhante em termos de sucesso global, com taxas de complicações comparáveis. A escolha entre eles depende principalmente do perfil específico do paciente e da gravidade da incontinência.
A cirurgia não é uma “admissão de fracasso” do tratamento conservador. Na verdade, é a evolução natural do tratamento quando outras medidas não proporcionam qualidade de vida adequada.
Como classificar a gravidade da incontinência
Para tomar a decisão cirúrgica correta, é fundamental classificar precisamente a gravidade da incontinência. Isso é feito através de critérios objetivos que ajudam tanto o médico quanto o paciente a entender exatamente onde estão.
- Incontinência leve geralmente significa usar 1-2 absorventes por dia, com perdas ocasionais durante esforços intensos como exercícios físicos ou levantamento de peso. O impacto nas atividades diárias é mínimo – você pode trabalhar, viajar e participar de atividades sociais sem grandes limitações. A qualidade de vida está pouco comprometida.
- Incontinência moderada envolve o uso de 3-4 absorventes por dia, com perdas frequentes aos esforços cotidianos como tossir, espirrar ou levantar objetos moderadamente pesados. Você pode começar a evitar certas atividades sociais ou profissionais por receio de vazamentos. O impacto na qualidade de vida é moderado, mas ainda é possível manter a maioria das atividades.
- Incontinência grave significa usar mais de 4 absorventes por dia ou fraldas, com perdas constantes que podem ocorrer mesmo em repouso. Há limitação significativa das atividades diárias, evitando compromissos sociais, viagens ou atividades físicas. O comprometimento da qualidade de vida é severo, afetando trabalho, relacionamentos e autoestima.
Para avaliar objetivamente, os médicos utilizam ferramentas específicas como o teste do absorvente de 24 horas (onde você pesa os absorventes antes e depois do uso), diário miccional detalhado, e questionários de qualidade de vida validados que avaliam o impacto real dos sintomas na sua vida cotidiana.

Rumo à continência: personalize o plano e avance com segurança
Lembre-se de que buscar ajuda especializada não é sinal de fraqueza ou admissão de fracasso. É sinal de inteligência e cuidado consigo mesmo. A incontinência urinária após cirurgia de próstata é uma condição médica tratável, não uma sentença definitiva. Com o conhecimento adequado, tratamento apropriado e acompanhamento especializado, a grande maioria dos homens consegue recuperar o controle urinário e voltar a viver plenamente.
Agende sua consulta comigo e inicie sua jornada rumo à recuperação da continência com segurança e confiança. Não deixe a incontinência limitar sua vida – existem soluções eficazes esperando por você.
Para compreender melhor como a técnica cirúrgica pode influenciar significativamente seus resultados e reduzir as chances de desenvolver incontinência, entenda a cirurgia robótica da próstata do começo ao fim e descubra como essa abordagem minimamente invasiva pode fazer toda a diferença na sua recuperação, oferecendo maior precisão, menor trauma cirúrgico e recuperação mais rápida da continência.

